31 de outubro de 2011

Mangualde entre as melhores escolas do país

Aí estão os “rankings” dos exames nacionais.
No 9.º ano, a nossa prestação foi modesta. Alcançámos um resultado um pouco acima da média nacional. Há, portanto, muito a fazer para melhorar este resultado, embora não se afigure fácil. De facto, uma vez que os exames do 9.º ano não determinam a reprovação de qualquer aluno, é muito difícil motivá-los para se aplicarem na respectiva preparação.

Já no que se refere ao Ensino Secundário, a nossa prestação foi notável. Repare-se que os exames do secundário representam o culminar do trabalho que todos nós fomos fazendo, ano após ano, desde as educadoras do pré-escolar até aos professores do 12.º ano, sem esquecer o papel dos diversos funcionários. É para estes exames que todos trabalhamos. Agora podemos sentir-nos orgulhosos pelo que fizemos.
Efectivamente, de acordo com o ranking do “Expresso”, - e poderia ser outro qualquer - a nossa escola alcançou um brilhante 105.º lugar entre as 616 escolas onde se realizaram exames, o que representa uma subida de quase 200 lugares relativamente ao ano anterior. Repare-se que na nossa vizinha cidade de Viseu, apenas uma escola logrou atingir um resultado melhor que o nosso e, ainda assim, pouco melhor.
Se considerarmos apenas as escolas que preparam para exame pelo menos 50 alunos, então a nossa posição sobe para o 82.º lugar. E, se retirarmos os colégios privados, a nossa posição sobe para um magnífico 55.º lugar. Ou seja, das 616 existentes, só 54 escolas públicas portuguesas são melhores que a nossa!
Estes rankings vêm, ainda, dar resposta àqueles que clamam que as nossas classificações internas, as notas que os professores atribuem, estão inflacionadas, e também aos que se queixam de que essas mesmas notas penalizam os alunos. Ora, os resultados agora publicados vêm mostrar que as nossas notas internas são, em média, 1,55 valores superiores às dos exames. Um valor perfeitamente natural e aceitável. Aliás, apenas 32 escolas em todo o país atribuem notas internas mais próximas das do exame do que nós. Com este benchmarking, fica demonstrado que os nossos critérios e instrumentos de avaliação se pautam pelo rigor necessário a este nível de ensino e que se encontram perfeitamente calibrados.
Para além da satisfação de todos quantos trabalham nas Escolas de Mangualde, estes resultados transmitem uma importante mensagem a toda a comunidade: podem estar tranquilos e confiantes porque a nossa escola está absolutamente à altura das suas responsabilidades para ensinar os vossos filhos e educandos.

Retirado daqui

22 de outubro de 2011

18 de outubro de 2011

Feira dos Santos de Mangualde - regresso ao futuro?

(texto também publicado no jornal Renascimento)

NOTA PRÉVIA:
Este texto representa um imperativo de consciência e um dever de cidadania e não deve ser confundido com qualquer posição político-partidária, atividade que não exerço.


Muita gente fala da Feira dos Santos – e da feira quinzenal – mas a maioria apenas a conhece superficialmente. Conhece-a de lá ir comprar ou passear. Ora, eu vivi no Largo do Rossio, onde se realizava, maioritariamente, a feira, durante 20 anos e, mais tarde, na Rua Valentim da Silva, onde também havia tendas da Feira dos Santos. Sou, portanto, dos que a conhecem por dentro e, por isso tenho, da nossa feira, uma visão diferente, quiçá, mais apurada.
Da Feira de há muito, recordo os aspetos mais característicos e pitorescos. Lembro bem o cheirinho das febras cozinhadas com um bochecho de vinho, ali mesmo na nossa frente, na frigideira em cima da trempe; quase que se comia o pão só com o aroma das febras. Lembro os carrinhos de choque, ao cimo do Largo, que faziam as delícias da rapaziada. Lembro as belas samarras, bem como os cobertores para o inverno. Lembro a feira dos animais, primeiro nas Carvalhas e depois no Largo Pedro Álvares Cabral (ou ao contrário, não tenho a certeza). Lembro, também, a feira do calçado, com as belas botas de cano alto para ensebar e, ainda, alguma cerâmica, alguma latoaria e até algum mobiliário artesanal. Aliás, em casa da minha mãe ainda há um conjunto de cadeiras compradas na feira há muitos anos. Era isto a feira. A dos Santos era quase igual à quinzenal, só que muito maior; tinha mais feirantes, mais “enfeirantes” e, sobretudo, muito mais carne. De resto, a carne de porco, vendida nas bancas de madeira, é que era o forte da Feira dos Santos.
Importa dizer que há quarenta e tal, cinquenta anos o comércio da vila, o retalho, era incipiente e a feira representava a oportunidade de comprar coisas que não existiam noutro lado. Nesses tempos, a Feira preenchia uma lacuna; era uma necessidade. A Feira existia porque era precisa.
Mas, da mesma forma que tenho estas recordações dos aspetos pitorescos, tenho outras bem menos agradáveis. Lembro-me que em dia de feira se acordava aí pelas 5 da manhã, estremunhados por aquele tim, tim, tim, das marretas a cravar os ferros no saibro do largo; lembro-me de abrir a porta de casa e dar de caras com as costas de uma tenda; lembro-me de sair com dificuldade e logo tropeçar nas cordas das espias; lembro-me de precisarmos de ir buscar o carro a uma garagem que tínhamos no largo, um pouco acima da casa, e não podermos porque estava tudo tapado; enfim, lembro-me bem que a Feira representava um grande transtorno, sobretudo para quem morava nos diversos largos e ruas onde a mesma se instalava.
Mais tarde, esse transtorno ultrapassou os limites do razoável. É que, entretanto, o comércio tinha-se desenvolvido mas, nos dias de feira, pouco negócio se conseguia fazer; as lojas ficavam com as montras e as portas tapadas pelas tendas e ninguém as conseguia ver. De facto, as tendas ocupavam os passeios e parte das ruas, deixando livre uma estreita faixa por onde se circulava a pé. Se fosse necessário passar um veículo, por exemplo dos bombeiros, era um caso sério.
Por isso, foi de forma natural e com assinalável regozijo de moradores e comerciantes que a feira saiu do centro da cidade e foi para a Avenida da Senhora do Castelo. Foi uma decisão particularmente acertada. Quem gostava da feira ou precisava da feira, não tinha problema: ia à feira. Quem não queria, também ficava bem, uma vez que a cidade não ficava intransitável durante dois dias, como acontecia antes. Portanto, tudo bem para uns e outros e muito democrático.
Devo dizer que pertenço ao segundo grupo. A feira de hoje diz-me pouco ou nada. E porquê? Porque todos aqueles aspetos pitorescos que descrevi lá atrás, mais não são do que ecos de um passado que não volta. Basta ver que as famosas febras na frigideira se foram com a ASAE e que apenas ficaram as grelhadas. Só que essas são iguais às que se podem comer em outro lado qualquer; as típicas, as de Mangualde, eram as outras. De resto, a própria carne de porco que ainda se vende - embora pouco - é exatamente igual àquela que se pode comprar em qualquer talho. Tudo o resto desapareceu. Desapareceu e, pior, não voltará. E não voltará pela simples razão de que tudo aquilo de que a população precisa, pode ser comprado numa loja ou num qualquer hipermercado. É assim o progresso…
Então, o que é a Feira hoje em dia?
Penso que a Feira apenas existe por uma questão de tradição e não por corresponder à satisfação de qualquer necessidade. Da última vez que fui à Feira, lembro-me de caminhar centenas de metros, avenida fora, e parecer que não tinha andado nada; que estava no mesmo sítio. É que os produtos que se vendiam eram exatamente os mesmos que estavam cem ou duzentos metros antes. Calças, camisas, polos, sapatos, tudo era igual e tudo de “grandes marcas”. Centenas e centenas de metros de um tudo igual absolutamente incaracterístico.
E, em boa verdade, é isto a Feira nos dias de hoje.
Quer agora, a nossa Câmara Municipal, trazer de novo a Feira dos Santos para o centro da Cidade. Aliás, li-o do próprio Presidente da Câmara. Nem queria crer! Como é que uma pessoa normalmente equilibrada, decide um tamanho retrocesso? Por certo terá sido influenciado por algum grupo de saudosistas - que os há - que têm vindo a defender que a Feira “renascerá” se voltar para o centro. Ora, está bem de ver que esta ideia não passa de um devaneio romântico. Porquê? É muito simples: porque quem faz a Feira são os feirantes! Exatamente! Não é a Câmara que faz a feira, São, isso sim, os feirantes. Ora, os feirantes, quer seja a Feira na Avenida, no recinto, no centro da cidade ou até mesmo na Senhora do Castelo, serão sempre os mesmos. E sendo os feirantes os mesmos, o que mudará na Feira? Obviamente, nada! De resto, já houve várias tentativas para trazer algumas notas do passado à Feira - por exemplo o artesanato. Só que não passaram de meras artificialidades que não tinham, nem terão, possibilidade de sustentação. E, assim sendo, ande-se lá por onde se andar, mais mostra aqui, mais exposição ali, nada mudará.
Alto! Nada, não. Os custos serão bem elevados. Senão, vejamos:
Tendo em conta o tamanho da feira atual, é de prever que venha a ocupar todo o espaço desde o Largo Dr. Couto até ao Venâncio ou ao Modorno, incluindo a zona do mercado, o Largo das Carvalhas e a rua General Humberto Delgado. Como se garantirá a existência - e a exigência – de uma circulação de emergência? Dificilmente, não é verdade? Mas as contrapartidas não ficam por aqui. É que antigamente, os largos eram saibrados e os ferros das tendas pouco estragavam. E hoje? Como ficará uma calçada de cubinhos depois de arrancarem os ferros das espias? Devastada, não? E os nossos jardins tão esmeradamente tratados? Como irão ficar?
Disseram-me que no ano passado terão feito um inquérito à porta da Feira. Pois bem, se assim foi, tratou-se de um inquérito inválido. Foi como perguntar a um faminto se quer comer. Podia fazer-se um inquérito, sim senhor, mas teria de ser aos moradores da cidade, esses que são os afetados. Então perguntar-se-ia: Quer as tendas à porta, ou não? Quer a cidade intransitável durante 2 ou 3 dias, ou não? Quer as ruas e os passeios esburacados, ou não? Quer os jardins patinhados, ou não? Se assim fosse, os moradores seriam ouvidos, pronunciando-se. Obviamente, se o “sim” ganhasse, teria de aceitar o veredito. É o preço da democracia. Assim vou ver se consigo arranjar uma “escapadinha” para esse fim-de-semana e voltar na segunda-feira para assistir ao início da reconstrução.

Agnelo Figueiredo


Post scriptum:
Depois de saber dos cortes que o Governo me vai impor, já não vou poder dar a tal "escapadinha". Vou ser obrigado a ir à feira, quer queira, quer não, nem que seja só por ir tomar um café no Melro ou no Moderno. Ai, ai...