15 de março de 2007

O mundo não pára

No artigo anterior levantaram-se algumas vozes na defesa do comércio tradicional como se este estivesse em perigo pela eventual próxima instalação em Mangualde de dois hipermercados. Acho que não têm razão.
Há já muito tempo que o comércio tradicional mangualdense enfrenta a concorrência de grandes superfícies.
De facto, ter uma grande superfície em Mangualde ou em Viseu é – ao ritmo em que vivemos – praticamente a mesma coisa. Fazer 16 quilómetros para ir às compras a Viseu tornou-se absolutamente banal. E até mesmo aqueles que lá não vão, não deixarão de se sentirem atraídos pelos “nossos” Pingo Doce e Lidl.
Ou seja: a concorrência ao comércio tradicional não é questão nova. É uma realidade que este enfrenta há já muito tempo.
Aquele que conseguiu distinguir-se da impessoalidade das grandes superfícies e do, geralmente insuficiente, apoio após venda, conseguiu fidelizar clientes. E estes não irão deixar de o ser por abrir mais este ou aquele estabelecimento. Os outros…

Mas esta questão leva-me a aflorar outra vertente do mesmo problema: a da evolução da sociedade.

O que é que hoje se considera "comércio tradicional"?
Os supermercados? As lojas de pronto-a-vestir? As outras lojas de pequena dimensão?
Mas estas, na época em que surgiram e se instalaram, não vieram pôr em perigo as então tradicionais actividades?
Por exemplo, os supermercados não vieram fazer concorrência às antigas mercearias de que tão bem me lembro?
Os antigos latoeiros, cesteiros, marceneiros e outros artesãos não foram constrangidos pela oferta de produtos inovadores nas novas lojas comerciais?
O pronto-a-vestir não veio abalar os antigos alfaiates, costureiras e modistas?
...
Meus senhores… o mundo não pára.
...
Imagine-se agora que em tempos, paternalmente, se tinham imposto limitações à abertura destas lojas que hoje constituem o comércio tradicional?
Como seria hoje o mundo?
Estariam os cidadãos mais felizes? Teriam à sua disposição a mesma variedade de produtos? Beneficiariam de melhores preços?
...
Ainda hoje subsistem alfaiates, aos quais vamos quando pretendemos um fato que vista especialmente bem. É o critério da qualidade. O critério do preço, neste caso, desvaloriza-se.
Da forma semelhante, também os diversos sectores do comércio terão de encontrar o seu critério para fidelizar clientes. Ninguém o fará por eles…

Por mim, desde que o comércio tradicional tenha o que procuro, continuarei cliente.

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