26 de abril de 2006

Crónica de um passeio

25/04/2006.
Levantei-me muito sensibilizado com o discurso do Presidente Aníbal Cavaco Silva apelando ao Pacto para a Inclusão. Aquele imperativo nacional, tão clarividentemente exposto, deixou-me prostrado, tal a dimensão da tarefa que se perfila. Nem a bica no Melro me deixou menos sisudo. Nada!
Meditabundo, resolvi sair desta terra de marginalizados, excluídos e outros perseguidos, e ir “ver mundo”. Peguei no carro – esse insubstituível instrumento de autodeterminação e de exercício da liberdade individual (pese embora a guerra que lhe tem sido movida por uma horda de imbecis que lhe atribuem malefícios que não são dele, mas do combustível que ainda é usado) – e abalei, A25 fora, em direcção ao mar.
Num instante, dei de caras com a Serra do Caramulo. Isto é, costumava ser a Serra do Caramulo. Mas… o recorte não era assim… aquelas coisas lá no cimo… umas torres… muitas torres… enormes… altíssimas… ah! aerogeradores! energia limpa! Ah, sim!
Bom, mas a serra foi-se. Aquela linha de recorte contra o horizonte, tão característica, desapareceu. Disso não há dúvida nenhuma. Uma antena aqui e outra acolá, ainda vá que não vá. Agora assim… Adeus paisagem tradicional. Adeus postais ilustrados. Ah, pois é!
E foi então que a dúvida me assaltou: Não estaremos perante um hediondo crime contra o património paisagístico? Um grosseiro atentado contra o ambiente? É que, para além dos aspectos que já foquei – turístico/paisagísticos – há o problema do ecossistema. Naturalmente devastado, não? A passarada, por exemplo, nem se pode aproximar daquelas coisas, tal o risco de levar uma traulitada das gigantescas pás sempre a girar. Uma coisa tenebrosa. Horrível! Não haverá por aí nenhuma agremiação ecologista que lute pela restauração das condições originais? Nem uma? É certo que eles têm mais o hábito de olhar para baixo, para os leitos dos rios, por exemplo, que é onde se constroem barragens. Mas, caramba, de quando em vez podiam olhar para cima, não?
Então e os autarcas lá do sítio? Que andam a fazer para preservar o património natural do seu concelho? Será que andam - também - iludidos pela “modernidade”? Se calhar andam preocupados em ter o posto de turismo aberto para indicar aos putativos turistas o percurso pedestre apropriado para observar de perto as torres eólicas…

(continua)

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