Tenho diversos amigos que, passe a redundância, respeito profundamente, e com os quais partilho um objectivo comum: tornar melhor esta nossa terra. Politicamente, situamo-nos em diferentes quadrantes, o mesmo acontecendo ao nível dos partidos da nossa simpatia ou mesmo militância. Contudo, esta questão não tem qualquer importância. De facto, o elemento agregador – a vontade de contribuir para o bem comum – é mais forte que quaisquer daquelas premissas, reduzidas, face à finalidade comum, a meras questiúnculas.
Quero com isto dizer que, partilhando embora o objectivo, divergimos amiúde e profundamente quanto à estratégia, à metodologia, aos meios e às acções a desenvolver em cada momento, no sentido de se ir concretizando aquele objectivo comum.
Por isso, reflectimos, argumentamos e discutimos, quantas vezes de forma vivamente acalorada:
“Fizeste assim, mas acho que fizeste mal. Já viste este problema? E este? O melhor era ter feito assado. Tinha esta vantagem, permitia resolver aquele problema, e evitava aquele inconveniente.”
“Nada disso. Também pensei nisso, mas depois lembrei-me disto e daquilo. Além de que é preciso não esquecer aquele facto. Daí…”
“Mas não achas que é melhor corrigir isto?”
“É uma coisa a pensar. Se for caso disso, pode corrigir-se, mas tenho muitas dúvidas”
…
Caso bem diferente seria assim:
“Então fizeste isto, hem? Que bacorada. E aquilo? Que cavalada!”
“Mas cavalada porquê?”
“Está mesmo a ver-se. Qualquer tipo percebe. Preocupa-te com o que é estruturante”
“Mas explica lá. Porque é uma cavalada? Dá lá um exemplo de algo que seja estruturante“
“Tu é que tens de saber, ou não chegas lá?”
“Olha, vai bardamerda”
…
É esta a diferença entre discutir e criticar.
As pessoas que se conhecem mutuamente não se criticam.
Discutem os seus pontos de vista. Apresentam alternativas. Argumentam. E não têm que chegar a um consenso. Não é forçoso. O que têm é de fundamentar as suas opiniões, enriquecendo-se mutuamente.
Por isso, a este nível de relacionamento não se pode exigir menos que a argumentação. Não é admissível a crítica simples, a qual resvalará, inexoravelmente, para o ataque pessoal.
Discutir, sim. Nunca é demasiado.
E um blog temático, como este, é um excelente suporte para a discussão...
Agnelo Figueiredo
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