30 de outubro de 2005

Desculpabilização?

Tenho repetido que não se conseguem reparar em 8 anos os erros cometidos ao longo de 18. Têm-me lembrado que esta “desculpabilização” (com o argumento do passado) já fede. Direi que sim, que já cheira mal. Mas continuarei a afirmar rigorosamente o mesmo. Não no fito de desculpabilizar a acção da Câmara, mas como expressão irrefutável da realidade.

Diz-se que qualquer obra tem um prazo de validade, ao fim do qual se torna necessária uma intervenção requalificadora. Nada mais certo!
O problema está, exactamente, nesse prazo de validade, o qual deve ser o maior possível. Só com prazos alargados entre intervenções, se pode ter suficiente margem de manobra para poder avançar com outras obras igualmente imprescindíveis. Ora, para que o prazo de validade de uma obra seja tão alargado quanto possível, é fundamental que, na fase de concepção e projecto, se perspective a durabilidade e a adequação às condições a que será sujeita no futuro. E, quando falo em futuro, falo num prazo não inferior a 25 anos.
Acontece que, durante anos e anos, não se pensou assim em Mangualde.
Efectivamente, são sobejamente conhecidos os casos em que, por exemplo na área das vias e arruamentos, num determinado ano, se pavimentou uma rua; passados 4 anos, se rebentou o pavimento para colocar a rede de água; e passados mais 4 anos, se voltou a rebentar para colocar a rede de esgotos. Um eleitoralismo despesista!
Mas, para além destas, também há as “obras de fachada”. Em Mangualde há várias. As mais emblemáticas serão as avenidas da Estação e da Senhora do Castelo. Como a primeira já está em vias de (re)construção, vou referir-me à segunda:
E começo com uma asserção inegável:
No dia em que foi concluída, o prazo de validade da Avenida da Senhora do Castelo já estava esgotado!
É verdade! Para quem não se recorda, lembro que quando a avenida foi construída:
- Não tinha saída – terminava nas Escadinhas;
- Não tinha rede de águas pluviais;
- Não tinha rede de distribuição de água domiciliária;
- Não tinha rede de águas residuais (esgotos);
- Não tinha iluminação;
- Não tinha “caixa” para suportar cargas de pesados.
Ou seja, não era mais que uma via terraplanada, compactada, e regada com alcatrão.

Ora, se a avenida tivesse sido devidamente concebida, hoje poderia ter o piso ligeiramente degradado, o que se resolveria com a simples renovação da camada de desgaste. Seria barato e seria rápido. Infelizmente, não é assim. Requalificá-la vai custar mais dinheiro do que custou inicialmente (mesmo a custos comparados)!
E não se assaquem responsabilidades aos técnicos. Os técnicos só cumprem “cadernos de encargos” que lhe são apresentados pelos políticos.

É claro que tudo o que foi mal feito ao longo de 18 anos, poderia estar já resolvido. Claro que podia. Só que, como o dinheiro não estica, essa opção teria obrigado a adiar a maioria das obras novas que se fizeram, nomeadamente a lógica da aproximação das condições de vida nas aldeias às da cidade. E não foi essa a linha política seguida.

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